quarta-feira, agosto 31, 2005

Alegre do meu descontentamento

Alegre é o meu expoente máximo em questões literário quer em prosa quer em poesia. Político indiscutível pelos ideais de Abril, sofreu na pele as agruras da noite longa do fascismo. Republicano de primeira água, independente e homem de esquerda. Quem não recorda tantos e tão belos poemas que com a sua voz sensual lê na perfeição, como “Trova do vento que passa” entre outros.

Não entendo no entanto, apesar de eu compreender que todo o cidadão é livre de se candidatar desde que para isso reúna as condições necessárias, o que se passa na cabeça de certas inteligências como as de Manuel Alegre por exemplo, para contra ventos e mares candidatar-se a Presidente da Republica. Não era uma candidatura falhada de conteúdo, não, Alegre é um senhor da Política Nacional, de múltiplos interesses. Neste momento porém é notório a confusão que iria trazer e o oportunismo que carregava, só iria dividir a esquerda numa altura em que é preciso a união entre essa mesma esquerda.

Alegre tornou-se numa pessoa amarga e nada sociável com as bases, é a minha opinião, pessoa intransigente e birrenta, indisponível para saudar o povo, esse povo que elege os políticos, a pedra base da democracia.

Estou aliviada com o desfecho que tudo isto teve hoje, dia 31 de Agosto do ano de 2005, o Animal Político que é Mário Soares vai arrancar com a sua candidatura à presidência da Republica, representando toda a esquerda em Portugal e Manuel Alegre vai continuar a deliciar-nos com a sua poesia.
Tudo perfeito quando acaba bem!

Trova do vento que passa 
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
 
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
 
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
 
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
 
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
 
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
 
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
 
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
 
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
 
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
 
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
 
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
 
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
 
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
 
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
                  Manuel Alegre

sábado, agosto 27, 2005

Mãe!!
Somos gente pequena, sem norte, quando esta palavra Mãe nos é tirada do vocabulário, andamos perdidos, confusos, com frio e sedentos de amor.

Quantas vezes limparam as nossas lágrimas, mataram a nossa fome e sede, lavaram as marcas da nossa vida e lamberam as nossas feridas. Ouviram pacientemente o nosso lamento e deram a palavra certa para o nosso enigma. Os seus braços protetores acolhiam-nos sempre nas horas amargar ou felizes, aquele beijo sentido e com sentido, protegeu-nos dos nossos inimigos imaginários ou não.

Crescemos e continuámos a alimentar este amor sincero e universal e eis que de repente tudo mudou, hoje aquela que nos protegia e dava amparo transformou-se num ser pequenino, indefeso e passamos nós a ser os protectores, o amparo, somos nós agora aqueles que lhes lavamos as lágrimas do desespero e lhes damos alimento ao corpo, já rendido ao infortúnio da sorte.

A velhice da minha mãe dói cá dentro, por estar a perder quem tudo me dava sem um queixume, sem um lamento, por reparar que a vida está a chegar ao fim para quem tudo podia para mim. Aquele corpo forte, está a definhar sem hipótese de voltar atrás e sem eu conseguir parar o tempo. Sinto frio e cruzo os braços num desespero de impotência contra o tempo, à espera do dia em que a figura principal da minha vida parta à procura de outros tempos de outras vidas.

Hoje sou eu que a protejo, mas sinto medo de não saber cumprir o meu papel de mãe da minha mãe. Olho para aquela figura frágil, pequenina, aquele corpo dilacerada pelo passar dos anos e procuro encontrar o passado, os dias em que na minha infância a minha mãe sorria e cantava para me embalar e não encontro semelhança. Fico triste e as lágrimas correm-me pela cara na esperança de ver aquelas mãos virem ao meu encontro para limpar o meu rosto. Sinto o tocar dos seus dedos, o murmúrio das suas palavras como um canto de sereia a embalar os meus sonhos. Acordo e sou eu que a embalo nos meus braços, para lhe dar força e carinho, para a amparar na caminhada do fim da vida, para que não sinta as pedras do caminho, para que não sinta fome, nem sede, nem frio, para que sinta o conforto e protecção que eu senti quando era criança.

Hoje sou Mãe da minha MÃE!

domingo, agosto 21, 2005

Portugal veste-se de negro

Fogos em Portugal

Cinzas nada mais


É com imensa tristeza que vejo o meu País a arder A mágoa de ver e ouvir aquelas gentes, chorando e gritando, já está dentro de nós, como fazendo parte do nosso dia a dia, chegando a ficar indiferentes ou como ouvi no café no outro dia, “eu já nem vejo TV, não suporto ver os fogos, é preferível ignorar”, como se assim conseguissem acabar com a tristeza e miséria com que alguns ficam.

Portugal veste-se de negro, assim como aquele velho que com dor na alma chorava baixinho tudo o que tinha perdido, mas seguia caminho porque ainda tinha muito que fazer. Muito que fazer! Com 90 anos, e toda uma vida destruída pela incúria dos que nada sabem da vida. Começar de novo, dizia a locutora, mas como é possível começar de novo? Onde ficam os sonhos? As lembranças? Ficam nas pedras calcinadas, num pedaço de madeira queimado. Aqui e ali um lugar onde ontem encontraram a felicidade, uma parede, uma laje um ou outro objecto carcomido pelo fogo e pouco mais, há lágrimas negras de raiva, de impotência, e sem saber como passasse a odiar algo ou alguém que desconhecem.

Com o passo trôpego e desequilibrado devido a tão avançada idade, caminham pelos terrenos de terra queimada, à procura de algo que tenha sobrado, algo que o fogo tenha poupado e traga à lembrança aqueles dias que pertencem ao passado e não podem voltar nunca mais. Só resta a desolação, a morte anunciada.

Mas o País segue o seu rumo, sem se voltar para ver esta desgraça que cada vez calha a mais gente, o País veste-se de negro e os homens, aqueles que podem, nada fazem. Como é o futuro destes velhos que tanto trabalharam para ter um cantinho e um pé-de-meia que lhes possa dar um futuro minimamente garantido? Quem lhes dá as recordações de uma vida?

Deixam cair os braços com o peso da raiva e do desespero, mas há porem alguém que diz que tem de trabalhar e não pode ficar ali à conversa. Tem 90 anos!!

Por este velho de 90 anos, que sabe que tem de refazer a vida mas não desanima, e por todos os Bombeiros do meu País, que tem de lutar e vencer as chamas da desgraça e da morte, vai a minha simples mas sentida homenagem. Bem hajam.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Política Caseira

Jurei que não metia política no meu blog, mas quem é que resiste a falar das coisas que vive no dia a dia na terra onde se vive e sobrevive todos os dias?

As coisas por aqui estão de tal maneira confusas que eu já nem sei se voto, e olhem que sempre votei até hoje.

Os políticos andam a brincar aos partidos e vice-versa. Já ninguém se entende, os que eram do PP passaram ao PSD e os que eram de um Movimento cá do burgo passaram a PSDs, ou será ao contrário? Sei lá, isto é uma grande salada.

O Presidente da Câmara, actual PSD, é agora do Movimento da Terra, isto ainda existe?

O PP não se entende com a concelhia ou será a concelhia que não se entende com os candidatos?

O PC, partido perdido à nascença aqui na Terra dos troca-tintas políticos, mantém-se calma e sereno. O PS ainda mexe alguma coisa, abana devagarinho, não convém fazer muitas ondas. Pode ser que…

Como vai isto acabar? Quem será a alma iluminada que dá continuação à monotonia em que esta terra caiu?

Será que a abstenção vai ganhar mais uma vez?

A ver vamos, como dizia o cego!!




A Zetta Maria

Há quem diga que sou rafeira, outros que sou Podenga pura, não sei ao certo. Mas sou uma cadela com muita sorte, disso tenho a certeza.

Vou contar-vos a minha curta história de vida:

Vim parar a um canil de Torres Vedras juntamente com a minha mãe e irmãos, quando num dia chuvoso de Setembro, tinha eu 2 meses, apareceram umas pessoas visitar o Canil. Entre elas estava uma humana que me pegou ao colo para poderem tirar os meus irmão e a minha mãe que finalmente tinham encontrado um lar, eu ficava sozinha.

Eu comecei a tremer de medo e de frio ao colo dela, quando eu estremeço ao ouvir dizer:

Como é que eu consigo pôr esta coisinha tão pequenina e tão fofa lá dentro, outra vez? Seria que estava a falar de mim? Seria que eu também ia sair daquele pesadelo? Mas outra voz mais firme disse, “ E os gatos? Como vai ser?” Logo se vê!!! Respondeu a humana que me tinha ao colo, senti mais festinhas e começamos a fazer uma caminhada desconhecida para mim, entramos numa casinha, trocaram umas papeladas e assinaram mais uma papéis e hei-me de repente na rua!

Depois de uma longa viagem, eu tenho só dois meses e nada sei deste mundo de humanos, fomos sentados numa coisa que se chama carro, e depois de “voar-mos” algum tempo entrámos numa casa onde me esperavam 4 gatos enormes!

Senti medo, fiquei entre a atrevida e a medrosa, cheirei tudo o que me foi possível, e aquelas criaturas que eu nunca tinha visto, também me cheiraram, mas os humanos não deixaram que me acontecesse nada de mau. Estava quentinho ali, tinha frio, fome e sede, deram-me de comer e beber e eu adormeci numa caminha fofinha e quentinha.

Sei que durante o meu sono, vieram os “gatos” cheirar-me, mas eu não dei por nada, queria ficar assim quietinha para sempre.

No dia seguinte fui outra vez de carro ver um Senhor de bata branca, que me deu uma picadelas que detestei, mas fiquei muito quietinha, com medo de regressar para aquele sítio frio e escuro.

Fui crescendo num ambiente agradável, com muita disciplina e alguma brincadeira, preferia ao contrário, mas a minha dona, já é minha dona aquela humana que me pegou ao colo no canil, diz que tem de ser assim, que tenho de aprender a ser uma cadela muito asseada e obediente.

Agora já tenho quase 2 anos e a minha casa de banho não é igual à dos gatos, a minha é enorme e chama-se rua, é lá que a minha dona diz que tenho de fazer as minhas necessidades, que ela apanha num saquinho e mete no caixote do lixo.

Adoro viver com os meus amigos gatos, principalmente do Félix e da última aquisição da minha dona o Sir, gato que ela encontrou na rua abandonado, tinha 2 meses. Sou feliz, meio destravada e muito barulhenta, mas os meus donos gostam de mim mesmo assim.