domingo, agosto 21, 2005

Portugal veste-se de negro

Fogos em Portugal

Cinzas nada mais


É com imensa tristeza que vejo o meu País a arder A mágoa de ver e ouvir aquelas gentes, chorando e gritando, já está dentro de nós, como fazendo parte do nosso dia a dia, chegando a ficar indiferentes ou como ouvi no café no outro dia, “eu já nem vejo TV, não suporto ver os fogos, é preferível ignorar”, como se assim conseguissem acabar com a tristeza e miséria com que alguns ficam.

Portugal veste-se de negro, assim como aquele velho que com dor na alma chorava baixinho tudo o que tinha perdido, mas seguia caminho porque ainda tinha muito que fazer. Muito que fazer! Com 90 anos, e toda uma vida destruída pela incúria dos que nada sabem da vida. Começar de novo, dizia a locutora, mas como é possível começar de novo? Onde ficam os sonhos? As lembranças? Ficam nas pedras calcinadas, num pedaço de madeira queimado. Aqui e ali um lugar onde ontem encontraram a felicidade, uma parede, uma laje um ou outro objecto carcomido pelo fogo e pouco mais, há lágrimas negras de raiva, de impotência, e sem saber como passasse a odiar algo ou alguém que desconhecem.

Com o passo trôpego e desequilibrado devido a tão avançada idade, caminham pelos terrenos de terra queimada, à procura de algo que tenha sobrado, algo que o fogo tenha poupado e traga à lembrança aqueles dias que pertencem ao passado e não podem voltar nunca mais. Só resta a desolação, a morte anunciada.

Mas o País segue o seu rumo, sem se voltar para ver esta desgraça que cada vez calha a mais gente, o País veste-se de negro e os homens, aqueles que podem, nada fazem. Como é o futuro destes velhos que tanto trabalharam para ter um cantinho e um pé-de-meia que lhes possa dar um futuro minimamente garantido? Quem lhes dá as recordações de uma vida?

Deixam cair os braços com o peso da raiva e do desespero, mas há porem alguém que diz que tem de trabalhar e não pode ficar ali à conversa. Tem 90 anos!!

Por este velho de 90 anos, que sabe que tem de refazer a vida mas não desanima, e por todos os Bombeiros do meu País, que tem de lutar e vencer as chamas da desgraça e da morte, vai a minha simples mas sentida homenagem. Bem hajam.

2 comentários:

Flávia disse...

e que homenagem!
pegaste em pormenores que dão uma beleza fantástica ao teu texto. Gostei muito. Espero que comeces a escrever mais. É inacreditável como o mundo da arte é viciante. Pela pimtura ou por outra forma de arte, podemo-nos dedicar tão bem, neste caso, à escrita. Continua assim. Muitos parabéns

Arte em Movimento disse...

Olá Flávia
Gracias pelas tuas palavras.
São palavras de quem é amigo, mas que animam e enchem o ego.
Beijinhos
Franky