sábado, agosto 27, 2005

Mãe!!
Somos gente pequena, sem norte, quando esta palavra Mãe nos é tirada do vocabulário, andamos perdidos, confusos, com frio e sedentos de amor.

Quantas vezes limparam as nossas lágrimas, mataram a nossa fome e sede, lavaram as marcas da nossa vida e lamberam as nossas feridas. Ouviram pacientemente o nosso lamento e deram a palavra certa para o nosso enigma. Os seus braços protetores acolhiam-nos sempre nas horas amargar ou felizes, aquele beijo sentido e com sentido, protegeu-nos dos nossos inimigos imaginários ou não.

Crescemos e continuámos a alimentar este amor sincero e universal e eis que de repente tudo mudou, hoje aquela que nos protegia e dava amparo transformou-se num ser pequenino, indefeso e passamos nós a ser os protectores, o amparo, somos nós agora aqueles que lhes lavamos as lágrimas do desespero e lhes damos alimento ao corpo, já rendido ao infortúnio da sorte.

A velhice da minha mãe dói cá dentro, por estar a perder quem tudo me dava sem um queixume, sem um lamento, por reparar que a vida está a chegar ao fim para quem tudo podia para mim. Aquele corpo forte, está a definhar sem hipótese de voltar atrás e sem eu conseguir parar o tempo. Sinto frio e cruzo os braços num desespero de impotência contra o tempo, à espera do dia em que a figura principal da minha vida parta à procura de outros tempos de outras vidas.

Hoje sou eu que a protejo, mas sinto medo de não saber cumprir o meu papel de mãe da minha mãe. Olho para aquela figura frágil, pequenina, aquele corpo dilacerada pelo passar dos anos e procuro encontrar o passado, os dias em que na minha infância a minha mãe sorria e cantava para me embalar e não encontro semelhança. Fico triste e as lágrimas correm-me pela cara na esperança de ver aquelas mãos virem ao meu encontro para limpar o meu rosto. Sinto o tocar dos seus dedos, o murmúrio das suas palavras como um canto de sereia a embalar os meus sonhos. Acordo e sou eu que a embalo nos meus braços, para lhe dar força e carinho, para a amparar na caminhada do fim da vida, para que não sinta as pedras do caminho, para que não sinta fome, nem sede, nem frio, para que sinta o conforto e protecção que eu senti quando era criança.

Hoje sou Mãe da minha MÃE!

3 comentários:

Arte em Movimento disse...

Eu também não percebi, mas agora que acabei talvez já lhe encontres um sentido, eu estou à procura.
Um beijinho
franky

Flávia disse...

Eu acho que percebi. Sentimo-nos como que "obrigados" a retribuir o carinho, o amor, o apoio que durante toda a vida as nossas mães (sejam realmente mães, avós, bisavós) nutriam por nós, quando olhamos para elas e nos apercebemos que, apesar da força que ainda possam ter, vêem-se aos poucos "consumidas" pela idade e pela falta de saúde, que as debilitam mais. Infelizmente não conseguem ser de porcelana, nem tão pouco resistirem à passagem do tempo. Nesse aspecto, ganham a sabedoria de uma vida, nem sempre fácil de ter sido vivida.

Um beijinho às duas

barcarossa disse...

Não só apreciei a forma como o conteúdo me tocou profundamente. É esse todo o sentido do ciclo da vida, custe o que custe. Obrigado por mo teres recordado...