
Começou a corrida à hipocrisia.
Todos nós sabemos que o aborto existe e que ultimamente o seu uso até é tolerado, não denunciado, calado e sentido como uma pratica corrente. As clínicas espanholas e não só, estão cansadas de o praticar a quem o pode fazer nestes locais, e são essas mesmas pessoas que agora batendo de mão no peito com ar cândido a gritar pelo não, encostadas a uma igreja permissível em tantos horrores que a história tão bem conhece.
Como podem jovens de 14/15/16 anos, e muitas vezes muito mais novas, serem mães em plena consciência dos seus actos? Quantas estão preparadas? Quantas jovens nestas condições não ficam sozinhas, sem companheiros, sem pais, entregues a si próprias, lutando contra uma sociedade castrante? Sim, porque a maioria dos que batem no peito agora em tempo de campanha, em nome da moral e dos bons costumes apelando para o Não, apontam estas jovens como pecadoras, quais Marias Madalenas?
Porque a mulher tem de ser livre de fazer as suas escolhas, chega de decidirem por nós o que é melhor ou pior.
Desde muito cedo, na formação da sua sexualidade, os jovens devem ser educados e preparados para as diversidades que tem de enfrentar pela vida fora.
Acreditem que não estou a falar de coisas sem importância, o aborto não é uma coisa menor. São terríveis os momentos que se antecedem ao acto. O preparar consciências, a clandestinidade, os gastos, a angustia, o sofrimento, a dor, a
CULPA. A sala vazia e fria onde estas mulheres entram em desespero, carregando todo o peso do mundo em cima dos seus ombros, sem saberem se vão conseguir sair dali com vida. A mulher que se aproxima, sem rosto, sem uma palavra de animo, sem carinho, fria, distante. É mais uma! A sala está vazia, assim como a alma destas mulheres que só trabalham por dinheiro. Máquinas que matam mulheres a coberto de uma lei obsoleta.
São dramáticos os momentos que uma mulher tem de passar entre a hora em que decide o virar desta página nas suas vidas, o vazio, o desespero de o ter de fazer e quantas vezes, sós com a sua culpa.
Por todas as mulheres que entraram nestas salas clandestinas e não conseguiram sair com vida, por todas as outras que sofreram e sofrem a solidão da escolha mais terrível das suas vidas, por todas elas, e contra a hipocrisia, eu digo
SIM ao aborto.