quarta-feira, janeiro 17, 2007

Tudo de novo!

Há alturas na nossa vida que parece que tudo desmorona. Os muros que tínhamos derrubado começam a erguer-se e a cair-nos em cima da cabeça de novo. Começam as insónias e os pesadelos. Como é possível que de repente volte tudo ao mesmo? As dores, o sofrimento, o desespero de ter de passar por tudo de novo!
Quando fui operada à vista em Maio de há dois anos, e depois de um longo período de grandes lutas com sistemas de saúde, hospitais, listas de espera e sei lá que mais, depois de ter encontrado e conhecido médicos que nem imaginava que existiam, pela sua classificação e capacidade profissional. Depois de uma recuperação angustiante, sempre com uma fé inabalável de voltar a ver como antes de tudo ter acontecido. Dias negros em que nos encolhemos numa concha enroscados em nós próprios com medo de acordar, mas ao mesmo tempo com uma esperança e fé em Deus para voltar a ter esse direito de voltar a viver. O mundo gira à nossa volta implacável, insensível ao nosso sofrimento. A dor de não ver não pode ser partilhada pois os outros não podem comungar da nossa angustia de não ter visão. Chorei quando não o podia fazer, os dias eram todos iguais, sombrios e tristes. O médico tinha falado em 8 dias de recuperação para tudo voltar ao normal, a visão voltaria em todo o seu esplendor, mas não, foram passando os dias e eu só voltei a ver quando já se tinham passado 15 dias. Eu sei que há os que sofrem a escuridão toda uma vida. E eu admiro a sua coragem. Mas naqueles dias eu vivia na esperança de renascer. E renasci. E voltei a viver. Peguei na paleta, assim como nas telas e pintei as cores da vida.
Passados dois anos e apesar de já estar avisada que iria acontecer, o drama voltou, a lente que me colocaram dentro do olho terá de ser limpa. Coisa simples, diz o entendido em oftalmologia. Para mim não é. Não está a ser fácil voltar a recordar tudo de novo. Ultimamente a minha visão tem vindo a deteriorar-se novamente, é como um véu que não me deixa ver as cores com a mesma nitidez de antes. Limpo as lentes constantemente, vou mudar as mesmas ainda esta semana na esperança de que estas se tenham riscado ou esteja a precisar de outras novas, sempre na esperança de retardar o inevitável. Penso que é de uma alergia e que quando ela passar volta tudo ao normal, deixei de fazer novamente o que mais gosto, já não pinto, já não leu, já não escrevo no PC como fazia ainda há muito pouco tempo, independentemente das pessoas compreender ou não o meu afastamento, tento não prejudicar ainda mais o meu estado de saúde. A revisão à vista é inevitável, eu sei, mas não quero. Apetece-me fazer uma birra e zangar-me com a vida, mas ela é mais forte do que eu e não posso fazer mais nada senão obedecer-lhe. Estou piegas e com muito medo. Também sei que é mais um período difícil mas que vai passar. Entretanto vou tentado fazer uma vida normal, tentando não entrar em pânico, escrevendo aqui, respondendo acolá, e tentando viver.

4 comentários:

António disse...

Um dos nomes que se pode dar a isso é ... força de viver.
Concordas?

Jon disse...

Força Franky!!!!
Eu sei que tu tens essa enorme capacidade de dar a volta por cima, dentro de ti! Só é preciso não desistires, nunca!
Um grande beijinho.

Dina disse...

Estás piegas e com medo e tens todo o direito, mas quando o momento chegar...as forças vãos estar lá tb e tu vais enfrentar essa contrariedade e vais voltar a vencer esse obstáculo. Força mulher ...as alentejanas têm garra e tu vais provar isso uma vez mais. Bjs

Arte em Movimento disse...

Por vezes a força de viver fica lá bem no fundo, porque não entendemos, porque a nós! Tu sabes muito bem o que eu quero dizer.
Beijinhos

Prometo não desistir Jotinha.
Bjs

Tens razão Xanu, a mulher alentejana é pequenina (não é o meu caso) mas lutadora. Qual Catarina Eufémia, lutarei até ao fim.
Beijinhos