segunda-feira, novembro 20, 2006

Natal branco!

Foto tirada da Net

Para mim o Natal, tem de ter cheiros de musgo, de presépios, de sonhos.

Quando chegava Dezembro, com um frio de bater o dente, vestida a rigor, botas, cachecol e luvas nas mãos, lá partia eu pelos campos, à procura de um musgo bem verdinho e fofo.

Regressava sempre carregada, com medo que não chegasse todo aquele musgo que tinha escolhido para o meu presépio.

Arranjava um cantinho lá de casa, com a ajuda da minha mãe e da minha irmã e armávamos o Presépio.

A cabana era a primeira coisa a ser construída, feita de papel grosso. Uma grande Estrela anunciando a Boa Nova.

Depois as figuras de Maria e de José. A seguir, o menino Jesus, muito pequenino, aconchegado sob os panos que a sua mãe tinha arranjado, naquela humilde cabana, dormia deitado na manjedoura, que lhe servia de berço.

A vaquinha e o burrinho, bem pertinho para aquecer o menino, com o seu bafo, pois no Alentejo fazia muito frio nesta época do ano.

Os caminhos eram feitos com areia que eu ia deixando cair por entre os meus dedos pequeninos. Os poços eram bocadinhos de vidro que brilhavam com as lanternas de azeite que eu acendia em honra de tão ilustre família. As ovelhas e os borregos, figurinhas de barro, perfilavam-se por entre os arbusto, para verem o menino de perto, comandados pelos pastores, também de barro.

Os Reis Magos, Belchior, Gaspar e Baltazar, chegavam de longe, cheios de presentes. Ouro, Incenso e Mirra, que significavam a Realeza, a Divindade e a Imortalidade do novo Rei.

A neve caia incessante em farrapos de algodão, mas o céu era sempre de um azul intenso com muitas estrelas feitas de papel de prata!

Eu ficava ali parada, sentada no chão, a imaginar como seria no tempo em que Ele nasceu, lá muito longe, onde a minha imaginação não chegava.

As prendas, poucas, apareciam na chaminé, no dia seguinte, trazidas por aquele Menino tão pequenino!!

O Natal da minha infância era branco. Não existia Árvore nem Pai Natal.

Este ano, pelo Natal, vou fazer novamente um presépio para receber o Menino em minha casa. Porém, já não tenho musgo, já não tenho sonhos, já não tenho ilusões.

As Árvores de Natal, inundam os lares, os centros comerciais e as ruas, Os "Pais Natais", sobem as varandas e passeiam-se pelos zonas comerciais. São às dezenas, centenas, para anunciar a boa nova!!

Hoje sei que naquela terra distante, onde este Menino nasceu, há guerras e outros meninos que não têm sonhos. Que os seus Natais se vestem de vermelho, de dor e sofrimento.

Quem me dera ser de novo criança e sentar-me ali no chão em frente do meu presépio de criança e sonhar.


5 comentários:

António disse...

Natal?
É tão bom recordar o que de bom encerra esta quadra. Ainda e apesar de tudo...
Não ao consumismo. Sim à solidariedade.

Arte em Movimento disse...

Pois é aí que eu queria chega.
Tantos Pai Natal deambulando por esses centros comerciais, propagandeando tudo o que é comércio, chegam a levar as criança pela mão ao encontro dos seus sonhos. As crianças ficam deslumbrados e pedem e exigem.
Onde fica o Espírito Natalício?

Iluminações e Árvores de Natal, que a cada ano que passa são maiores, mesmo que as autarquias façam greves durante o resto do ano e se manifestem com a falta de verbas, com que têm de governar as Câmaras! Porque não se lembram de oferecer uma verdadeira noite de Natal, de grande solidariedade, a TODOS os sem-abrigos que as grandes cidades têm nas suas ruas?
Recordar aqueles Natais da nossa infância, quando um chocolate fazia as nossas delícias, os doces, as filhós, feitas só naquela época do ano. Que saudades!!
Olha, sabes que mais? Isto cheira-me a velhice!!! Ahahah!

Beijinhos

Anónimo disse...

Já estou como o outro, o Natal devia ser todo o ano.

Mas alto lá ... a parte das enchentes no supermercado é que não ...

E porque será que só se lembram das crianças carenciadas nesta época? Ai ai ...

Acho que este espirito de confraternização, de brilho nos olhos e calor no coração devia ser prolongado pelos restantres dias do ano....mas não, o pessoal em passando o Natal volta a ser egosista, hipócrita e sem amor pelo próximo.

Haja alegria :)

Bjocas a todos

Dina disse...

Fiquei sem palavras...
O meu Natal tb era assim a única diferença é que no meu Alentejo se canta ao menino noite fora...de casa em casa visitando os amigos para lhe desejar boas festas ao som da ronca.
Que saudades....
Posso usar o teu texto?? Claro que te darei todos os créditos...depois de devidamente autorizada claro.
Fico à espera da tua resposta.

Arte em Movimento disse...

Olá Xanu
Apesar de eu ter nascido em Barrancos, os Natais de que mais me recordo são os que passei em Safara, aldeia que fica perto de Moura. As pessoas de Safara cantavam muito bem à alentejana. Homens e mulheres, indiscriminadamente!Mas naquele tempo, eram os homens que saiam à rua e cantavam ao menino na noite de Natal. E que bem que eles cantavam!