quinta-feira, dezembro 01, 2005

Fernando Pessoa



FERNANDO PESSOA
Faz hoje 70 anos que Fernando Pessoa partiu para parte incerta! Ficaram os poemas de um homem só.
A sua obra, a nossa história.
Desde cedo, Fernando Pessoa inventara seus companheiros. Mas seria no dia 8 de Março de 1914 que os heterônimos começariam a aparecer com toda a força. Neste dia, Pessoa escreve, de uma só vez, os 49 poemas de O Guardador de Rebanhos, de Alberto Caeiro. Como resposta, escreve também os seis poemas de Chuva Oblíqua, que assina com seu próprio nome. Logo, inventaria Álvaro de Campos e, em junho do mesmo ano, Ricardo Reis. Um semi-heterônimo de Pessoa, Bernardo Soares, em 1982 teve sua obra, o Livro do Desassossego. Álvaro de Campos e Ricardo Reis, assim como o próprio Pessoa, consideravam-se discípulos de Alberto Caeiro, mas cada um seguiu os ensinamentos do mestre à sua forma, e chegaram até a travar uma polêmica muito interessante sobre o fazer poético. A última frase de Fernando Pessoa foi escrita em inglês no dia de sua morte: “I know not what tomorrow will bring” ou “Eu não sei o que o amanhã trará”
O amanhã trouxe para Fernando Pessoa uma admiração crescente. Suas obras foram aos poucos sendo publicadas e ele é considerado hoje, ao lado de Camões, um dos dois maiores poetas portugueses de todos os tempos. Nenhum poeta, em língua portuguesa, obteve tanto prestígio em todo o mundo. O obscuro e modesto lisboeta tornou-se, assim, um nome importante em todo o mundo. Graças ao poder da palavra. Graças à magia da poesia.
"Quanto mais eu sinta,
quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidades eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora."
"Fernando Pessoa"
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Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
"Navegar é preciso; viver não é preciso".
Quero para mim o espírito desta frase, t
ransformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário;
o que é necessário é criar.

Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande,

ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;

ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Fernando Pessoa

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Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.

Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê,

Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,

Torno-me eles e não eu.

Cada meu sonho ou desejo

É do que nasce e não meu.

Sou minha própria paisagem;

Assisto à minha passagem,

Diverso, móbil e só,

Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo

Como páginas, meu ser.

O que segue não prevendo,

O que passou a esquecer.

Noto à margem do que li

O que julguei que senti.

Releio e digo : "Fui eu" ?

Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa ele mesmo o autentico:

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm."

Fernando Pessoa

http://fredb.sites.uol.com.br/pessoa.html

2 comentários:

Flávia disse...

ai o Fernando Pessoa. É um dos poetas portugueses que mais adorei estudar. Aquele que esconde a sua emoção, entre o raciocínio, mas que no fim de contas não consegue esconder o seu amor pela Ofélia. Foi um grande pensador da literatura sem dúvida.
De uma coisa tenho praticamente a certeza, a tirar tese de mestrado em literatura, Pessoa seria certamente um dos motivos que me levaria a estudar de novo.

agora a própósito para uma senhora pintora aqui fica:

Não sou eu que descrevo. Eu sou a tela
E oculta mão colora alguém de mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
E o meu princípio floresceu em Fim.

Que importa o tédio que dentro de mim gela
E o leve outono, e as galas, e o marfim,
E a congruência da alma que se vela
Com os sonhados pálios de cetim?

Disperso..... E a hora como um leque fecha-se....
Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar....
O tédio? a mágoa? a vida? O sonho? deixa-se...

E, abrindo as asas sobre Renovar,
A erma sombra do voo começado
Pestaneja no campo abandonado...

Arte em Movimento disse...

Pessoa só pode resporder com Pessoa, ele prório!

Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

Fernando Pessoa
Beijinhos
Franky